EM RESUMO
|
O acolhimento das pessoas em situação de viagem na metrópole de Bordeaux tem sido objeto de muitas reflexões e evoluções, entre a necessidade de adaptação, políticas públicas, acesso à terra e a coexistência com a população local. Enquanto a preparação de um novo esquema de acolhimento está em andamento e as situações de assentamentos ilegais lembram a urgência da questão, é necessário observar de perto a realidade cotidiana desses habitantes e a complexidade dos dispositivos estabelecidos para atender às suas necessidades.
Áreas de grande passagem: uma capacidade subutilizada #
Na metrópole de Bordeaux, a disposição de áreas de grande passagem atende a uma obrigação legal: permitir que grupos itinerantes se estabeleçam durante suas trajetórias, principalmente entre abril e outubro. Recentemente, a abertura de novas instalações em Mérignac e Artigues-près-Bordeaux permitiu alcançar as cotas exigidas. No entanto, a frequência continua baixa, situando-se em torno de 27% em Artigues durante o primeiro ano. Este fenômeno pode ser explicado, em parte, pelo atrativo do litoral durante o verão, mas também pela busca de locais dinâmicos para o emprego sazonal.
À lire Descubra qual é a cidade mais feliz do mundo, longe dos estereótipos de Paris e Helsinki
A relevância dessas áreas é hoje questionada, especialmente diante das dificuldades de integração desses locais nos parcours de vida das pessoas em situação de viagem. O feedback indica que outras soluções, mais permanentes, deveriam ser priorizadas para melhor atender às expectativas e aos trajetos de assentamento. Vários conflitos locais ilustram a complexidade da aceitação dessas infraestruturas, como demonstram vários casos próximos a Toulouse ou entre Aubagne e La Ciotat (exemplo detalhado, outra situação).
Rumo a uma diversificação dos locais de vida: os terrenos familiares #
Uma parte significativa das pessoas em situação de viagem que vivem na metrópole bordalesa são verdadeiros habitantes locais, que escolheram um modo específico de habitação e desejam se estabelecer de forma duradoura. Para atender a essa aspiração, a criação de terrenos familiares é considerada uma alternativa promissora. Esses espaços, semelhantes a pequenos empreendimentos, permitem que as famílias aluguem uma casa juntamente com uma área destinada à caravana.
Apesar do sucesso comprovado do único terreno familiar em Artigues, a criação de novos espaços está lenta, devido à falta de terrenos adequados e à resistência local. Entre 2019 e 2024, nenhum novo terreno foi criado, mesmo que o esquema anterior previa sessenta vagas adicionais. A busca por terrenos privados tem se mostrado difícil, limitando a rápida evolução da oferta e restringindo as possibilidades de um assentamento duradouro dentro dos próprios bairros bordaleses.
Para compreender melhor esse modelo e seu impacto positivo na inserção social e no acesso à escolarização, é útil observar as experiências em outros locais, como a reorientação profissional em torno de La Rochelle (ilustração aqui).
Áreas de acolhimento permanentes: entre residencialização e saturação #
Paralelamente às áreas de passagem e terrenos familiares, as áreas de acolhimento permanentes têm como objetivo oferecer abrigo temporário. No entanto, enfrentando a falta de alternativas, muitas dessas áreas veem famílias se instalarem de forma duradoura, um fenômeno qualificado como “residencialização”. Uma consequência lógica da insuficiência de terrenos familiares e da falta de rotação possível.
Na metrópole de Bordeaux, as cerca de dez áreas de acolhimento disponíveis não são suficientes para absorver a demanda. Várias delas estão fechadas: Gujan-Mestras, Campugnan, Saint-Aubin-de-Blaye, Cavignac e Tauriac. Além disso, há atrasos na abertura de novos locais programados em Pessac e Brazza-Niel, obstaculizados por dificuldades técnicas ou pela oposição de moradores. Esse contexto reduz consideravelmente a oferta e favorece os assentamentos não autorizados em estacionamentos ou terrenos vagos, levantando problemas de coexistência e regulamentação (mais informações aqui).
Uma vontade política hesitante, freada pelos preconceitos #
O desenvolvimento do acolhimento das pessoas em situação de viagem na metrópole bordalesa frequentemente esbarra nas reservas dos eleitos e na desconfiança de parte da população. A instalação de novas estruturas, sejam áreas ou terrenos familiares, regularmente provoca debates acalorados, alimentados por representações estigmatizantes, como destaca uma campanha de conscientização nacional (saiba mais).
Observa-se que os esforços de acolhimento frequentemente recaem sobre as mesmas prefeituras, geralmente mais engajadas nas questões sociais, enquanto outras preferem se eximir dessas obrigações invocando desafios técnicos ou questões de terras. A distribuição geográfica dos futuros terrenos familiares, pensada em uma escala ampla, não facilita também a aceitação política local, cada prefeito podendo transferir a responsabilidade para o município vizinho.
À lire países a evitar para uma viagem segundo as recomendações dos Estados Unidos
Por fim, parece que, apesar da vontade de alguns atores, a questão do acolhimento dos viajantes ainda é pouco abordada nas campanhas eleitorais, vítima da sua suposta impopularidade junto ao eleitorado, embora sua integração continue sendo um desafio de convivência dentro do território metropolitano.