EM RESUMO
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No coração de Tóquia, no animado distrito de Shinjuku, encontra-se Kabukicho, um bairro multifacetado, ao mesmo tempo fascinante e perturbador. Reconhecido por sua vida noturna vibrante, é também um ponto alto da prostituição onde se encontram clientes em busca de sensações e trabalhadoras do sexo, muitas vezes presas em um ciclo de exploração. Este texto revela as realidades ocultas de Kabukicho, ao mesmo tempo em que explora seu papel crescente como destino de turismo sexual.
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Uma zona cinza: entre leis e atividades clandestinas #
Kabukicho é frequentemente percebido como um santuário da devassidão onde a prostituição de rua prospera sob a proteção do anonimato. Este bairro, embora impregnado de uma certa legitimidade aos olhos dos turistas, é considerado pelas autoridades como um território de risco. As operações policiais na região destacam as tensões entre as leis em vigor e as práticas que ocorrem. Os clientes costumam vir sem medir os perigos que os cercam, atraídos pelo exotismo e pela ilegalidade subjacente à experiência.
O parque Okubo: epicentro da atividade sexual #
No centro dessa efervescência, o parque Okubo se revela um foco de atividades noturnas. Os trabalhadores da noite, em busca da candidata perfeita, perambulam por esse espaço onde se misturam risos e sussurros, mas também desespero e vulnerabilidade. As trabalhadoras do sexo, após suas longas horas passadas em estabelecimentos como os kyabakura (bares de acompanhantes), frequentemente retornam a este parque para complementar sua renda. Este ciclo de ir e voltar testemunha as pressões econômicas que as levam a permanecer nesse meio.
Uma espiral de endividamento #
Os kyabakura, com seu charme e promessas de apoio emocional, contribuem para o aumento da prostituição em Kabukicho. Para muitas mulheres, esses estabelecimentos não são apenas um local de trabalho, mas uma armadilha. Elas se veem encurraladas em um ciclo de endividamento onde o pagamento de suas dívidas aos bares as empurra para a prostituição. Cerca de 43% das mulheres apreendidas por prostituição em Tóquia em 2023 confessaram ter sido forçadas a “vender seus corpos” para pagar dívidas, um elemento trágico de seu cotidiano.
O rosto do turismo sexual #
O turismo sexual teve um aumento exponencial, reforçado por uma onda de visitantes estrangeiros desejosos de descobrir o outro lado de Tóquia. O parque Okubo agora é rotulado como um destino imperdível para muitos viajantes em busca de experiências incomuns. Kazuna Kajiri, uma atriz engajada na luta contra as violências sexuais, observou que este local faz parte integrante do turismo moderno, com grupos de clientes acompanhados de tradutores para afinar suas negociações, tornando a situação ainda mais precária para as trabalhadoras.
Os perigos persistentes #
No entanto, a fachada brilhante de Kabukicho oculta uma realidade mais sombria. Os perigos são onipresentes, alimentados por comportamentos imprevisíveis por parte dos clientes. A violência física, chantagem e a propagação de doenças sexualmente transmissíveis tornam-se elementos rotineiros na vida das mulheres deste bairro. Relatos mencionam agressões, ecoando as preocupações de uma injustiça sistêmica onde a responsabilidade recai exclusivamente sobre as trabalhadoras do sexo em caso de conflito.
Uma dupla penalidade #
O aspecto cruel dessa realidade se manifesta no tratamento judicial das trabalhadoras. No contexto de um ato sexual tarifado, é frequentemente ela quem suporta as consequências legais, criando assim uma dupla penalidade para mulheres já em dificuldades. Expostas à violência e à exploração, muitas vezes se vêem presas em um sistema que as desvaloriza enquanto as torna invisíveis para a sociedade.